O Livro dos Espíritos | Livro 3 “Leis morais” | Capítulo 2 “Lei de adoração”
A prece, questões 658 a 666
Nosso artigo de hoje contempla as questões 658 a 666 de O Livro dos Espíritos, o primeiro livro da codificação espírita, publicado por Allan Kardec no ano de 1857.
Nestas questões, contidas na parte terceira do capítulo 2, intitulado “Lei de Adoração”, o tema abordado é a “Prece”.
De início, na questão 658, é perguntado aos Espíritos:
“A prece agrada a Deus?”
A resposta dos Espíritos é:
“A prece sempre agrada a Deus, quando vem do coração, pois, para Deus, a intenção é tudo. A prece agrada a Deus, quando dita com fé, com fervor e sinceridade. Mas, não creias que toque a Deus a prece do homem fútil, orgulhoso e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.”
Entretanto, o que é a prece? O que é orar?
Na questão a seguir, 659, Kardec faz exatamente essa pergunta:
“Qual a essência da prece?”
Mais uma vez, a resposta dos Espíritos é direta e objetiva:
“A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é colocar-se em comunicação com Ele. Três coisas podem ser feitas por meio da prece: louvar, pedir e agradecer.”
Mas, o que é adoração?
Se buscarmos sinônimos da palavra “adoração”, encontramos termos como: admiração, homenagem, veneração, entre outras. Portanto, louvar a Deus é demonstrar-Lhe gratidão, amor, reconhecimento por tudo o que Ele nos concede continuamente.
Na resposta dessa mesma questão, os Espíritos também nos orientam que podemos pedir e também agradecer a Deus.
Costumeiramente, pedimos mais do que agradecemos. Pensamos mais em direitos do que em deveres. Porém, deveríamos justamente fazer o contrário, ou seja, cumprir a parte que cabe a cada um de deveres e responsabilidades, agradecendo a Deus e reconhecendo tudo o que recebemos Dele, pois Deus nos concede apenas o que merecemos. Muitos podem até dizer: “Da vida, só conheço a infelicidade e o sofrimento.” Mas, aquele que é Espírita, sabe que, se sofre ou é infeliz, não é pela vontade de Deus, mas porque fez jus ao que recebe ou recebeu (provas e expiações).
O agradecimento a Deus, conforme dito na resposta da questão 658, deve ser “um ato sincero de arrependimento e de verdadeira humildade”. Isto significa que, ao orarmos, se não houver arrependimento pelos maus atos praticados (e, ao mesmo tempo, buscando repará-los) e humildade (sem falsa modéstia e sem tentar fazer qualquer tipo de troca com Deus – exemplo: "se o Senhor me perdoar disso, eu também perdoo fulano que me fez aquilo"), de nada adiantará, pois é preciso colocar-se na posição de submissão e respeito ao Pai Celeste.
A prece de coração, feita com amor e humildade, atrai para perto daquele que ora energias capazes de harmonizar seu próprio ser, bem como, o ambiente e aqueles (encarnados ou desencarnados) que estão ao seu redor.
Encontramos na Bíblia, no Novo Testamento, diversas passagens onde Jesus, frequentemente, se recolhia para orar a Deus, pedindo a Ele orientações e forças para cumprir sua missão na Terra.
A prece pode, ainda, nos tornar melhores, porque aquele que ora com confiança, humildade e sinceridade, atrai para perto de si os bons Espíritos. Como dizem os Espíritos na resposta da questão 660, “O essencial não é orar muito, mas orar bem.” Orar bem é pedir forças a Deus e esforçar-se continuamente para melhorar-se espiritualmente, sem se preocupar em ser melhor que o outro.
Falamos há pouco sobre o arrependimento dos maus atos praticados. Na questão 661, encontramos que “Aquele que pede a Deus perdão por suas faltas, só o obtém mudando suas ações.” O perdão por nossos erros só pode ser alcançado corrigindo os próprios deslizes, sem dar vazão aos pensamentos e vícios inferiores. Essa mudança não ocorre de uma hora para outra, mas gradualmente, uma vez que somos ainda espíritos imperfeitos e a prece é um dos meios mais poderosos para isso.
Um outro ponto também apresentado nas questões, é sobre a utilidade de se orar pelos outros. Na questão 662, pergunta-se aos Espíritos se podemos orar pelos outros? Novamente, com a objetividade que lhes é própria, os Espíritos dizem que aquele que ora “atua pela sua vontade de praticar o bem, atraindo para si, por meio da prece, os bons Espíritos e esses, então, se associam ao bem que se deseja fazer.” Orar pelos outros, é um ato de amor, pois com a oração é possível aliviar e até mesmo curar aqueles que estão enfermos. Orar pelos que sofrem é um dever.
Na questão seguinte, 663, pergunta-se se a prece tem o poder de mudar o tipo de provas, mudando-as de direção. Respondem os Espíritos que “vossas provas estão nas mãos de Deus e algumas devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação. A prece traz para junto daquele que pede os bons Espíritos, que transmitem forças para suportá-las corajosamente.”
Disse Jesus: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á.” (Mateus 7:7-8) Nessa passagem do Evangelho de Mateus, Jesus coloca de modo claro que a ajuda está sempre disponível. Para isso, basta pedir, basta orar, mas também ser capaz de entender os desígnios de Deus, resignando-se, trabalhando pelo bem.
Do mesmo modo que orarmos por nós e pelos outros, podemos igualmente orar por aqueles que já partiram deste mundo. Nesse caso, a oração tem como efeito trazer alívio àquele que está no mundo dos espíritos, podendo levar-lhe, pois muitas vezes sofre no mundo espiritual, o desejo de melhorar-se, arrependendo-se dos atos praticados contrários ao bem. Desse modo, desejando melhorar-se, o desencarnado atrai para junto de si outros espíritos capazes de consolá-lo, trazendo-lhe esperanças.
Para orar, basta querer, basta ter fé, cumprir as responsabilidades e atender as necessidades do próximo com amor.
Lembramos que, orar, independe da religião, tendo em vista que, nem Jesus, nem os bons Espíritos e nem mesmo Deus (por meio dos Dez Mandamentos) colocam como condição para a oração que cada um deve seguir essa ou aquela doutrina.
Lembremos que Deus atende aos pedidos honestos, conforme Sua vontade e o merecimento de cada um.
Obs: Neste artigo, utilizamos os termos oração, prece, orar e rezar, como sinônimos, pois todos têm um mesmo significado.
Equipe Vida e Espiritismo
Bibliografia: KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1 ed. França.