O Evangelho segundo o Espiritismo – Capítulo 13 – Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita – item 19
“O que devemos pensar das pessoas que, tendo sido pagas por seus benefícios com ingratidão, não fazem mais o bem por medo de encontrar pessoas ingratas?”
Quem cobra gratidão é vendedor de benefícios, visto que só podemos cobrar o que vendemos.
A mãe não “vende” a dedicação ao filho, o faz incondicionalmente e este ato é a representação mais pura de Amor.
Quem se doa em prol de um filho, de um amigo, de um necessitado, jamais pensa em retribuição. E assim deve ser quando ajudarmos qualquer criatura, seja no lar, na rua, no local de trabalho, na atividade religiosa ou na vida social.
Inúmeras vezes perdemos a oportunidade de ajudar porque estamos mais interessados em vender do que doar. Entretanto, é nosso dever aproveitar todas as oportunidades para ajudar o próximo, já que somos devedores uns dos outros e somente com a prática do bem de maneira desinteressada, estaremos reparando os nossos erros de reencarnações passadas, bem como, evoluindo moralmente perante Deus.
No Livro dos Espíritos, a questão 938 esclarece que “As decepções oriundas da ingratidão não endurecem o coração e o fecha à sensibilidade, porque o homem de coração se sente sempre feliz pelo bem que faz. Sabe que, se o bem for esquecido nesta vida, será lembrado em outra e que o ingrato se envergonhará e terá remorsos da sua ingratidão.”
As mágoas, os desentendimentos, as decepções ocorrem sempre que cobramos amizade, respeito, compreensão, apreço, daqueles que eventualmente tenhamos beneficiado. Nos sentimos muitas vezes decepcionados, porque esperamos reconhecimento ou recompensa em troca do bem praticado. Mas, através da ingratidão dos outros, Deus percebe a nossa perseverança no bem e se estamos desenvolvendo a nossa capacidade de fazê-lo sem visar lucros.
Lembremos que o bem praticado não se perde, pois, ao realizá-lo, estamos também nos ajudando, habilitando-nos a receber as bênçãos de Deus, uma vez que Ele tudo sabe, não se perturba com os ingratos, e muito menos, deixa de atendê-los. Sem contar que através do nosso exemplo podemos contribuir para que no futuro germinem bons frutos no solo que esteja preparado.
Devemos recordar que Jesus recebeu a maior demonstração de ingratidão que a Humanidade já testemunhou: a multidão o insultou, os amigos o abandonaram, os discípulos se acovardaram e mesmo assim, não se revelou aborrecido, não criticou ninguém, muito pelo contrário, pelo Seu exemplo, sedimentou em muitos, a disposição de trabalhar pela edificação do Reino de Deus.
E agora como estamos, passados mais de dois mil anos?
O Mestre ainda sente a nossa ingratidão, identifica nosso recuo ao trabalho no campo do bem, verifica os nossos desvios voluntários e criminosos, mas, jamais esgotará a Sua paciência de amar e nos amparar para que consigamos evoluir.
Então, por que cobrar gratidão dos outros? E a nossa?
A ingratidão é uma imaturidade espiritual, uma insensibilidade da alma, uma educação defeituosa, um egoísmo pronunciado, uma indiferença pela solidariedade.
O ingrato é egoísta, por só pensar em si próprio. Acha que todos são obrigados a servi-lo, estarem sempre à sua disposição para agradá-lo, e que tem mais direitos do que os outros. Poucas vezes, costuma agradecer. Existem ainda os que sempre consideram pouco o bem que lhe fazem, abrindo brechas para outros instintos, como a raiva em relação àquele que o auxiliou. Não raras vezes, o beneficiado se considera humilhado devido à sua natureza orgulhosa, ou com inveja, misturando tristeza e rancor por não ser capaz de praticar o bem ou possuir a qualidade moral daquele que o ajudou, demonstrando assim problemas de formação de princípios e de caráter.
Em hipótese alguma devemos pensar que alguém tem obrigação de nos fazer qualquer coisa, mesmo que essa obrigação exista. Por exemplo, os pais, seguramente, têm o dever para com os filhos de educá-los, corrigir-lhes os defeitos e ensinar-lhes o amor a Deus e ao próximo, mas os filhos têm ao mesmo tempo o dever de serem gratos aos pais pelo que recebem deles. Somente filhos egoístas não percebem isso!
Precisamos educar as crianças a compreender a importância da prática do bem, tanto para executá-la, quanto para recebê-la. É comum observar que algumas crianças são egoístas. Este defeito surge de maneira espontânea, sem nenhum disfarce e é aí que os pais ou responsáveis, precisam atuar de modo eficaz para eliminar este instinto e despertar os bons sentimentos. Isto é possível através da disciplina, religião e de bons exemplos.
Somos responsáveis por aquilo que fazemos ou deixamos de fazer. Desta forma, precisamos despertar nas criaturas o sentido de gratidão. Fechar os olhos para defeitos é ser omisso.
Recordemos que é necessário o intercâmbio permanente, uma vez que ninguém consegue viver inteiramente só e, como consequência, sempre há motivos para sermos gratos a alguém. No Livro dos Espíritos, as questões 767 e 768 esclarecem que o isolamento absoluto é contrário à lei natural, visto que os homens buscam viver em sociedade para progredir, se ajudando mutuamente. O homem não pode progredir sozinho, pois não tem conhecimento de tudo e precisa do contato com outros homens para evoluir.
Não nos esqueçamos da Lei da Ação e Reação, isto é, para cada ato praticado, estaremos sujeitos a uma boa ou má reação. Hoje, colhemos o que plantamos ontem, e amanhã colheremos o que plantarmos hoje, portanto, o livre-arbítrio precisa ser usado de forma racional e em favor do próximo.
Pratiquemos o bem de maneira permanente e progressiva. A prática desinteressada, fraterna, discreta, movida pelo sentimento da verdadeira caridade, nos leva as mais doces e reais alegrias, que nem a indiferença perturba, porque nos liberta do egoísmo, nos aproxima da criatura necessitada e consequentemente de Deus.
Agradeçamos sempre pelo bem recebido, mas sem bajular, porque devemos incentivar novas realizações e não despertar o orgulho. De tal modo, estaremos fazendo bom uso, do princípio básico de solidariedade e fraternidade.
Equipe Vida e Espiritismo
Bibliografia: KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, edição 3 em francês.Esta é uma livre interpretação.