O Livro dos Espíritos | Livro 4 “Esperanças e consolações” | Capítulo 1 “Penas e prazeres terrenos”
Desgosto pela vida. Suicídio, questões 943 a 957
Certas pessoas são dominadas pelo desgosto pela vida. Isso é efeito da ociosidade, da falta de fé e, muitas vezes, da abundância que se dispõe. Para aqueles que utilizam suas capacidades com o objetivo de ser útil, conforme suas aptidões naturais, o trabalho não é árido e a vida passa mais depressa. Eles tornam-se capazes de suportar as dificuldades com mais paciência e resignação, visando a real felicidade que o aguarda. A existência não é tão pesada quando se está trabalhando.
As tribulações da vida são provas ou expiações, e felizes são os que as suportam sem se queixar, pois serão recompensados.
Mesmo com todas tribulações, o homem não tem direito de tirar a própria vida, somente Deus tem esse direito. Até mesmo uma pessoa que vê diante de si uma morte inevitável e terrível, é culpada de abreviar por alguns instantes o seu sofrimento, pois ela não está respeitando o prazo estabelecido por Deus. Além disso, quem pode ter certeza de que este prazo chegou e que ela não pode receber uma ajuda inesperada no último momento?
O suicídio intencional é uma transgressão da Lei de Deus.
Aquele que, passando necessidades, se deixa morrer pelo desespero é considerado suicida. Porém aqueles que foram a causa, ou que poderiam evitá-lo, são mais culpados que aquele que morreu, e eles responderão por um assassinato. Entretanto, não se deve acreditar que aquele que morreu seja absolvido totalmente; se lhe faltou firmeza e perseverança, e se não usou sua inteligência para sair das dificuldades. Principalmente, se seu desespero nasce do orgulho; isto é, se pelo orgulho, pela vergonha, preferiu morrer de fome, ao invés de descer de sua posição social e trabalhar. Há mais grandeza e dignidade, lutar contra as adversidades, enfrentando as críticas de um mundo egoísta.
O suicídio, visando escapar da vergonha de uma má ação, é tão repreensível quanto aquele que é causado pelo desespero. O suicídio não apaga a falta. Quando se tem a coragem de fazer o mal, é necessário ter a coragem para sofrer as consequências. Deus, que julga a causa, pode, por vezes, diminuir seu rigor.
O suicídio também não é perdoável quando se tem por objetivo impedir que a vergonha envolva filhos ou família. Aquele que age desta forma não faz bem, nem para ele mesmo e nem para família, mas acredita que sim, porém Deus levará em conta a sua verdadeira intenção, pois será uma expiação que ele impõe a si mesmo. Ele atenua a sua falta pela intenção, mas nem por isso deixa de cometê-la. Segundo Kardec, quem tira a vida para fugir da vergonha de uma má ação, prova que valoriza mais a opinião dos homens do que a de Deus, pois entrará na vida espiritual carregando seus erros, e tirou os meios de repará-los, durante a vida. Deus perdoa aquele que se arrepende e se esforça na reparação dos erros. O suicídio nada resolve.
O homem que não resiste aos vícios e sabe que eles apressam seu fim, pois o hábito as transformou em verdadeiras necessidades físicas, cometem suicídio moral. Neste caso, o homem é duplamente culpado, pois há nele falta de coragem e bestialidade e, além disso, esquecimento de Deus. Este homem é mais culpado do que aquele que tira a própria vida por desespero, porque teve tempo de raciocinar sobre o seu ato. Aquele que o comete impensadamente há, por vezes, uma espécie de alucinação que se aproxima da loucura. Aquele que não resiste aos vícios será punido com mais rigor, porque as penas são sempre proporcionais à consciência que se tenha das faltas cometidas.
Há também pessoas que tiram a vida, na esperança de chegar mais cedo a uma vida melhor, o que é uma insensatez. Fazendo o bem o homem estará mais perto de alcançar uma vida melhor. O suicídio atrasa sua entrada em um mundo melhor, e ele mesmo pedirá para vir concluir a vida que interrompeu por uma falsa ideia.
Aqueles que não suportam a perda de pessoas queridas e tiram a própria vida, na esperança de se juntar a elas, não alcançam o seu objetivo. O resultado é bem diferente do que esperam e, em vez de se reencontrarem, afastam-se por mais tempo, porque Deus não pode recompensar um ato de covardia e insulto feito contra Ele, duvidando de sua providência.
Sacrificar a própria vida, pode ter algum mérito, quando se tem por objetivo salvar a vida dos outros ou sendo útil ao próximo, se essa for a real intenção. Neste caso, isso não é considerado suicídio. Entretanto, Deus é contra o sacrifício inútil e manchado pelo orgulho. Somente com desinteresse o sacrifício é meritório. Segundo Kardec, qualquer sacrifício feito à custa da própria felicidade é um ato que tem mérito aos olhos de Deus, porque é a prática da lei da caridade. Quem renuncia o bem terreno pelo bem dos seus semelhantes realiza um sacrifício. Mas, antes de realizá-lo, ele deve considerar se a sua vida não será mais útil, do que a sua morte.
As consequências do suicídio para o espírito são diversas e estão relacionadas às causas que o produziram. Mas há uma pela qual todo suicida passa: o desapontamento. Dependendo das circunstâncias, alguns expiam a falta imediatamente; outros numa nova existência, pior do que aquela que interromperam.
Segundo Kardec, existe um elo que une corpo e espírito que, normalmente, está com plena força. Porém, nos casos de morte violenta, esse elo é rompido bruscamente e, com isso, o espírito sente os efeitos desse rompimento como uma perturbação, seguida da ilusão, onde acredita ainda estar vivo. Ao contrário da morte natural, onde esse elo se enfraquece gradualmente.
Essa ligação entre corpo e espírito produz, em alguns suicidas, uma espécie de repercussão, onde o espírito sente os efeitos da decomposição do corpo; uma sensação cheia de angústia e horror. Esse estado pode se manter pelo tempo que deveria durar a vida que foi interrompida.
A religião e a moral condenam o suicídio como um ato contrário à Lei Natural.
O Espiritismo demonstra, pelos fatos, que o suicídio não é apenas uma falta, mas uma infração contra a moral e contra as Leis de Deus.
Equipe Vida e Espiritismo
Bibliografia: KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1 ed. França.Esta é uma livre interpretação.