Dezesseis de março, Norma está a caminho de São Paulo. Foram dois longos e cansativos dias dentro do ônibus.
Pouco tempo atrás, tinha completado 18 anos. Era a mais velha dentre oito irmãos. A necessidade de ajudar a família, basicamente, impôs que partisse para a cidade grande.
Tinha a esperança de encontrar um trabalho digno para, ao final do mês, mandar o dinheiro que ganhasse à sua mãezinha.
O ônibus para na plataforma de desembarque de uma das rodoviárias mais movimentadas da cidade. Norma desce e, apressadamente, segue em direção à estação de trem. O destino? A casa de dona Odete Lima, uma antiga conhecida da família.
Dona Odete era uma senhora simples e batalhadora. Saia de casa, todos os dias, às quatro da manhã, em direção ao trabalho. Era copeira em uma empresa de exportação, no centro da cidade. Tinha apenas uma filha, Cláudia, que lhe causava grande preocupação. Não queria saber de nada, nem de estudar, nem de trabalhar. A menina até ajudava a mãe nos afazeres domésticos, mas, bastava dona Odete dizer-lhe que precisava ter mais responsabilidade, que Cláudia a destratava e a desdenhava na frente de qualquer um!
Era muito comum, após rotineiras discussões, a menina sumir de casa, por dias seguidos. Cláudia tinha um temperamento explosivo. Irritava-se, por qualquer motivo. Para ela, o importante mesmo era viver a vida, sem qualquer preocupação ou compromisso. Queria mesmo ir às festas.
O relógio marca vinte horas. Norma chega à casa de dona Odete. Bate palmas no portão. É recebida pela própria. Fora bem recepcionada por mãe e filha. Cláudia até demonstra algum interesse pela jovem. À medida que conversam, interpela a garota sobre como era sua cidade, o que fazia por lá, do que gostava etc. Entretanto, a aparente simpatia pela moça não dura muito. Bastou a mãe dizer a filha que precisaria, por algum tempo, dividir seu quarto com Norma, para Cláudia transformar-se. Transtornada, começa a desferir uma série de ofensas contra a mãe e, também, contra a moça.
A situação é tensa.
A jovem Norma não estava ali por um capricho seu, mas por uma necessidade extrema, já que mãe e irmãos corriam risco de passar fome, caso não encontrasse trabalho e, consequentemente, não enviasse dinheiro para eles, para o sustento da família.
As horas avançam e os ânimos se acalmam.
Sem outra solução momentânea, Norma é alojada no quarto da menina. Mas, daquele dia em diante, Cláudia jamais aceitaria a jovem em sua casa. Para ela, tratava-se de uma inimiga dentro do lar. O destrato era constante. Cláudia fazia de tudo para que Norma se sentisse o mais desconfortável possível. Se algum objeto quebrasse dentro da casa, Cláudia sempre colocava a culpa na moça.
O tempo corre e, finalmente, Norma consegue uma colocação no mercado. Por incrível que pareça, ocuparia um cargo na mesma empresa onde dona Odete trabalhava. Como o horário de ambas era o mesmo, saiam juntas todos os dias, ainda de madrugada, rumo à empreitada.
Meses atrás, Dona Odete Lima tinha conseguido, também, uma vaga para a filha, mas, como fora dito, Cláudia não queria saber de trabalhar!
E o ódio da garota, contra Norma, ficava a cada dia maior!
— Quem aquela menina pensava ser? Dizia Cláudia. Além de invadir sua casa, o que queria ela ao se aproximar tanto de sua mãe?
Os desentendimentos entre Cláudia e a mãe acirravam-se mais e mais. Não demorou muito para que a menina sumisse, mais uma vez, de casa. Porém, desta vez, era diferente, pois também estava corroída pelo ciúme doentio!
Envolvida pela contrariedade e pela irritação foi, impulsivamente, morar com um rapaz que tinha conhecido há algum tempo, em uma festa. Ele, por sua vez, também tinha deixado a família, por diversos desentendimentos. Entregaram-se, ambos, às bebidas e às drogas. Não demorou para que Cláudia engravidasse do rapaz que, ao saber da notícia, deixou-a, imediatamente! Deste dia em diante, a menina passou a morar na rua, visto que não tinha como sustentar-se.
Não passava um só dia sem que, dona Odete Lima e Norma procurassem por Cláudia, por todo canto. Até que, finalmente, encontraram-na em um albergue da Prefeitura.
Cláudia estava desfigurada e profundamente doente!
A mãe, ao ver a filha naquela situação, não teve estrutura para suportar toda a carga e, precocemente, desencarnou!
O que faria a jovem Norma, dali em diante, frente àquele profundo drama?
A jovem moça, entretanto, não fraquejou! Pediu forças a Deus e resgatou a menina para o lar.
Segundo mês de gestação. A gravidez de Cláudia avança, contudo, oferecendo riscos à mãe e à criança, já que menina tinha anemia profunda e, assim, poderia sofrer um aborto a qualquer momento!
Norma não sossegava, cuidava de Cláudia como se fosse sua própria filha. Só se ausentava de seu lado para trabalhar. A seu modo de ver, era, de certa forma, responsável por aquela situação.
Os dias avançam e a saúde de Cláudia pouco melhora. Os médicos não entendiam porque ela não respondia aos tratamentos. E toda a situação preocupa demais Norma.
Porém, certo dia, estranhamente, começou a sentir que deveria deixar de se preocupar com tudo e seguir outra direção. Estranhamente, tinha um sentimento avesso a tudo aquilo.
Norma não mais orava, nem a Deus e nem a Jesus. Passou a não se importar mais com a menina e com o bebê. Contudo, em seu íntimo, sabia que aquela não era a conduta correta, não era a educação cristã que havia recebido da mãe.
Mas o que fazer? Que rumo tomar? O tratamento médico não surtia efeito e o risco de aborto aumentava a cada instante!
De súbito, Norma olha para uma imagem de Jesus, que está em um quadro pendurado, na sala da casa. Imediatamente, recorre a Ele em uma fervorosa prece, pedindo-Lhe que a orientasse.
Na manhã seguinte, a campainha da casa toca. Era dona Margarida. Uma vizinha, que dizia ter tomado conhecimento da situação, por intermédio de uma amiga próxima à família e, em conversação com Norma, pergunta se ela tinha conhecimento dos tratamentos espirituais que eram realizados em um centro espírita ali perto e que frequentava.
Aquilo viera como uma luz à mente de Norma. Lembrou-se que, ainda quando criança, um dos irmãos tinha tido um grave problema de saúde e que sua mãe, também, o levou a um centro espírita em sua cidade natal, para o tratamento espiritual.
Norma não teve dúvidas. Sabia que Jesus havia atendido à sua súplica e que, por meio daquela senhora, trouxe-Lhe a resposta.
Na tarde seguinte, mesmo diante de uma série de obstáculos, a jovem moça consegue levar Cláudia até o centro espírita, para o esperado tratamento espiritual. Norma sabia que precisaria de muita determinação e, fundamentalmente, da ajuda de Deus e de Jesus, para convencer a gestante de que o tratamento seria benéfico tanto para ela, como para o bebê, vez que Cláudia era indiferente às crenças ou à religião.
Foram dias de grande dificuldade e prova para Norma, mas a moça não desistiria. Sabia que, junto com o tratamento médico, aquele era o caminho a seguir.
Aos poucos, com os tratamentos que eram administrados, espiritual e médico, Cláudia e o bebê tiveram a saúde restabelecida.
Cláudia passou a perceber a importância da oração e da fé em Deus! Junto com Norma, realizavam o Evangelho no Lar todos os dias!
Consequentemente, o filhinho de Cláudia crescia e crescia em seu ventre. Percebera que só não perdeu a criança, pela determinação e insistência de Norma e, acima de tudo, pela ajuda de Deus e de Jesus.
Ao final dos nove meses de gestação, Cláudia dá à luz a um lindo menino.
Seu nome? Jesus Lima.
Era uma singela homenagem Àquele que fez e faz a diferença em suas vidas! Graças à fé e à confiança em Jesus, o pequenino reencarnou novamente.
Equipe Vida e Espiritismo