O Livro dos Espíritos - Capítulo “Lei de Conservação”
Questão 727 — Uma vez que não devemos criar sofrimentos voluntários, que nenhuma utilidade tenham para outrem, deveremos cuidar de preservar-nos dos que prevejamos ou nos ameacem?
"Contra os perigos e os sofrimentos é que o instinto de conservação foi dado a todos os seres. Fustigai o vosso espírito e não o vosso corpo, mortificai o vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo, que se assemelha a uma serpente a vos roer o coração, e fareis muito mais pelo vosso adiantamento do que infligindo-vos rigores que já não são deste século."
Devemos suportar as provas que Deus nos envia, porque elas têm por finalidade o desenvolvimento da inteligência e o despertar da resignação e da paciência.
Cabe a todos nós abrandarmos as próprias provas. Entregar-se a indiferença diante das dificuldades, não representa virtude, mas sim preguiça.
Nas situações difíceis precisamos encontrar meios para vencer as dificuldades, sempre com fé, perseverança e sem desespero.
Para que tenhamos força e saúde para trabalhar, tornando o corpo útil ao Espírito, devemos zelar por ele, provendo suas necessidades, porque precisamos de energia para cumprir nossas tarefas na Terra.
A busca pelo bem-estar também é desejável, desde que não ocorra à custa dos outros e igualmente não comprometa o nosso equilíbrio moral e físico.
As privações voluntárias são importantes quando contribuem para o bem dos outros, porque nos libertam da matéria e elevam nossa alma. Isto quer dizer que toda vez que nos privamos de prazeres inúteis, que nos arrastam a excessos e aproveitamos as oportunidades em prol do próximo, doando aquilo que possuímos, sejam bens materiais, intelectuais, físico, ou tempo, estamos evoluindo moralmente. Contudo, toda doação tem que ser feita com amor e nunca esperar nada em troca.
Uma das características que nos distingue dos outros animais é que raciocinamos e necessitamos exercer esta faculdade. Não podemos renunciar ao nosso raciocínio e sim desenvolvê-lo.
A fé tem que ser raciocinada e não ser cega, sem sentido, a ponto de cometer atrocidades, com a falsa ideia de que é em nome de Deus.
Achar que através de flagelos, torturas, mortificações, mutilações, isolamento está se purificando, é bobagem e não tem propósito útil.
Temos o livre-arbítrio, a Lei do Amor, o raciocínio e necessitamos utilizá-los a nosso favor e principalmente em favor do próximo.
Por que ficarmos sem alimento ou água por dias, sabendo que isto é fundamental para a nossa saúde, para o nosso corpo, e que este nos foi confiado por Deus?
Em qualquer privação voluntária, devemos perguntar para o que ela serve. Se servir apenas para si próprio, servir para impedir de fazer o bem, para dar mau exemplo, para prejudicar alguém, então esqueçamos tudo isto, porque estaremos alimentando o egoísmo e o orgulho, instintos que temos que combater a todo o momento.
Chega desses modismos, posturas e crendices, muitas das quais faziam parte de séculos passados e que foram frutos da imaginação de mentes doentias. São cultos externos, exercidos por pessoas ainda muito distantes das verdades espirituais.
A mortificação do corpo não purifica o Espírito. Procuremos a coerência, o equilíbrio, porque o excesso e a escassez sempre fazem mal, seja de alimentos, de trabalho, de lazer, de higiene etc.
Conseguiremos a coerência, o equilíbrio, buscando orientação em Deus, através da prece, do trabalho no campo do bem, do estudo de obras sérias e em instituições sérias.
Francisco Cândido Xavier nos deixou mais de 400 obras, Allan Kardec mais de 12 obras e, no entanto, o que mais existe é a busca por fantasias.
Como aprender, estudando bobagens, estudando fantasias? Ou como distinguir o que é sério do que é bobagem se não estudamos as obras sérias? Ou até mesmo, como orientar nossos filhos se não sabemos o que é Deus ou quem é Jesus, Seus ensinamentos, a Sua vida?
Muitos dizem: Ah! Eu já li a Bíblia toda!
E aí, entendeu? Será que realmente entendeu? Mudou suas atitudes para o bem?
Por isto, que o estudo além de individual, também precisa ser em grupo, em uma instituição séria! Porque ainda não conseguimos fazer uma boa interpretação de texto; isto de textos simples, imaginem textos sobre ensinamentos cristãos, parábolas, linguagem mais rebuscada...
Durante uma leitura, alguém busca no dicionário uma palavra que não compreendeu? São raras as pessoas que fazem isto! Afinal, que estudo é este, com meio entendimento ou entendimento nenhum?
Tomemos cuidado para não utilizarmos o nosso livre-arbítrio gerando sofrimentos voluntários para nós e para os outros. É nossa tendência optar por aquilo que é fácil, por causa do comodismo!
Tomara que um dia consigamos diferenciar o cansaço da preguiça; que sejamos cautelosos com relação aos perigos e sofrimentos; que não tenhamos má vontade para raciocinar; que conservemos muito bem tudo aquilo que Deus nos confiou e que façamos bom uso; que não mortifiquemos o nosso corpo, mas sim, mortifiquemos em nosso Espírito o orgulho e o egoísmo, e desta maneira, pensaremos na vida futura e evoluiremos intelectualmente e moralmente.
“Raros homens aprendem a encontrar o proveito das tribulações. A maioria menospreza a oportunidade de edificação e, sobretudo, agrava os próprios débitos, confundindo o próximo e precipitando companheiros em zonas perturbadas do caminho evolutivo."
"Todas as criaturas sofrem no cadinho das experiências necessárias, mas bem poucos Espíritos sabem padecer como cristãos, glorificando a Deus.” Emmanuel - Livro “Vinha de Luz”, capítulo “Como Sofres?”
Equipe Vida e Espiritismo
Bibliografia: KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76 ed. Rio de Janeiro: FEB.Esta é uma livre interpretação.