O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 5 - item 31
O artigo de hoje é uma história real, de um infortúnio oculto, e presenciada há alguns anos atrás no centro espírita que frequentávamos à época.
Os nomes aqui citados, visando preservar a identidade dos envolvidos, foram intencionalmente alterados.
Dona Maria, uma senhora de mais de sessenta anos de idade, chegou ao centro espírita movida, em suas próprias palavras, pela tragédia, a qual sua filha, Joana, tinha sido vítima alguns anos atrás, por um disparo de arma de fogo, deixando-a tetraplégica e, por consequência, presa a uma cama dia e noite.
Por semanas, ela vinha ao centro para participar dos estudos e, aos poucos, passou a compreender e aceitar a situação pela qual passava Joana.
O acontecimento só veio ao conhecimento de todos no centro alguns meses depois, em uma noite de estudos pelo relato emocionado da própria dona Maria.
Dona Rosa, a dirigente do centro espírita, sabendo do ocorrido, ao final daquela noite de estudos, imediatamente chamou em particular dona Maria, no intuito de oferecer-lhe algumas palavras de alento e também o “Evangelho no lar”, uma vez que o centro dispunha de algumas equipes que, sextas à noite, se deslocava para realizar o evangelho nos lares daqueles que aceitavam o convite.
Dona Maria recebeu o convite com alegria e positivamente o aceitou.
E, assim, três membros de uma das equipes do Evangelho no lar, recebem de Dona Rosa a gratificante tarefa de ir, na sexta-feira seguinte, ao lar de Dona Maria e Joana, incluindo este que faz este relato.
Chegado o dia e, então, nos deslocamos até um bairro pobre da periferia da cidade de São Paulo, onde moravam dona Maria e Joana.
Batemos à porta da casa e Dona Maria, com muita alegria, prontamente nos recebe.
No caminho, antes de chegarmos àquele lar, conversávamos qual seria a situação de Joana, pois sabíamos que ela permanecia acamada há vários anos. Imaginávamos que a moça estaria em uma situação de revolta, tendo em vista que, segundo relato da própria mãe, Joana era muito jovem quando aquilo aconteceu e que Joana era também muito ativa.
Após o cumprimento caloroso de dona Maria entramos na casa e, imediatamente, nos deparamos com Joana em uma cama, como esperávamos. Porém, totalmente diferente do que imaginávamos: com um sorriso de um canto a outro do rosto.
Com muita dificuldade para falar (depois, ficamos sabendo que sua fala também foi comprometida), Joana nos disse: “Boa noite! Tudo bem? É uma alegria ter vocês aqui!”.
Após o cumprimento caloroso por parte de ambas, o sorriso no rosto e a alegria de Joana parecia estampar-se em nossas mentes. Não um sorriso de alegria por apenas estarmos ali naquele momento, mas um sorriso que parecia penetrar em nossos corações, agradecendo a Deus pela oportunidade dela estar ali, mesmo presa a uma cama, vivendo um momento nitidamente passageiro.
Naquele momento, sentimos que quem estava ali para aprender o Evangelho, vivo, era nós e não Joana ou sua mãe, dona Maria.
Fizemos o Evangelho no lar como havíamos aprendido no Espiritismo (a prece inicial, a leitura de um trecho do livro “O Evangelho segundo o Espiritismo”, os comentários e a prece final), mas, antes de iniciá-lo, soubemos, através de um breve relato de dona Maria que o acidente que quase termina em tragédia, foi um disparo feito por uma mulher envolvida com o então noivo de Joana e que, numa confusão geral, apanhou uma arma de fogo e disparou contra a cabeça de Joana.
Num ímpeto, não sei explicar porque o fiz, perguntei a Joana se ela havia perdoado a pessoa que tinha feito aquilo com ela. Mal terminei de formular a questão e Joana, ainda com o sorriso que não saia de seu rosto, disse-me que perdoava a moça e, também, entendia perfeitamente o momento que passava e que tinha fé em Deus e em Jesus.
Meus olhos instantaneamente se encheram de lágrimas e, olhando para o lado, vi que os demais membros de nossa equipe de Evangelho no lar, de cabeça baixa, enxugavam suas lágrimas.
Posteriormente a isso, dona Maria nos contou as dificuldades nos cuidados com a saúde de Joana. Como Joana precisava usar fraldas as vinte e quatro do dia, era necessário trocá-la e limpá-la constantemente. A comida também era diferente, pois, uma vez acamada o dia todo, era necessária uma alimentação pastosa e isso exigia de dona Maria, um trabalho especial na preparação dos alimentos, mas que ela tinha fé em Deus e, para ela, era uma alegria cuidar de sua amada filha.
Dona Maria também nos relatou sobre a dificuldade para levar Joana a uma consulta médica, por exemplo. Para isso, ela contava com a boa vontade dos vizinhos e, na maioria das vezes, não era uma tarefa fácil encontrar alguém com disponibilidade. Muitas vezes, contavam com doações para que pudesse pagar um taxista. Outras vezes, simplesmente perdiam a consulta e isso causava muita tristeza em dona Maria, por não poder ajudar a filha.
Nos despedimos de ambas e saímos daquele lar de luz sensibilizados pela lição que recebemos. Não apenas pelo magnífico exemplo de Joana, de resignação e perdão, mas também pelo magnífico exemplo de amor e dedicação de dona Joana em sacrificar-se em benefício de sua filha, Joana.
Qual o proveito dos sofrimentos em benefício dos outros?
Conforme responde o Espírito Luís em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, “Esses sofrimentos podem beneficiar outras pessoas material e moralmente. Materialmente, por meio do trabalho, das privações e do sacrifício, que contribuem para o bem-estar material de seus entes queridos. Moralmente, pelo exemplo que dão de sua submissão à vontade de Deus. Este exemplo do poder da fé espírita pode ajudar aquele que sofre à resignar-se, salvá-los do desespero e de suas terríveis consequências para o futuro.”
Equipe Vida e Espiritismo
Bibliografia: KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3 ed. França.Esta é uma livre interpretação.